sábado, 9 de abril de 2016

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3º PERIODO

A Lírica Camoniana:Temas,formas,influências

          Na lírica camoniana predomina o tema do amor, cantado em todos os tons: ligeiro, espirituoso ou mesmo picante, em variações que passam pelo elogio cortesanesco de tónica mais ou menos convencional, até ao tom sério, quando não trágico, complicando-se então com a temática da saudade, da insatisfação, da morte e com o sentimento do pecado.
             Além dos temas amorosos salienta-se também o do desconcerto ou do absurdo, referido ora a aspetos sociais e morais, que engloba toda a existência : o eterno problema do mal . Te,os ainda composições de temática religiosa, motivadas por influências bíblicas; e finalmente poemas de circunstância.
Quanto às formas, a variedade da lírica camoniana é grande. Como Sá de Miranda, usou a redondilha com muita graça em composições. Mas, como é natural, a maioria das composições adotam a medida nova: o soneto, o terceto, a oitava-rima, a canção e a ode, a elegia, a écloga.
              
            No conjunto da obra lírica sente-se a fecunda influência clássica: avultam,entre os poetas mais presentes :Virgílio, Ovídio,e Horácio.
            Torna-se ainda mais patente a influência de Petrarca e dos petrarquistas , que Camões traduz, glosa, parafraseia, aproveitando a seu modo, no sentido da sua forma mental, temas, tópicos, giros estilísticos que se tornara a gramática poética obrigatória da poesia amorosa do Renascimento.
           Alguns desses temas derivam já da poesia provençal e do romance cortês: a mulher como ser superior, quase divino, de beleza inefável; a atitude infinitamente reverente do amante perante a Senhora; o sentimento da distância que os separa; a morte por amor, etc. 

Fonte: Matos, Maria Vitalina. Introdução á poesia de Luís de Camões.  



Retrato feminino na lírica de Camões
       O retrato feminino é um tema recorrente na poesia lírica de Camões, descrevendo o sujeito poético a mulher ora na sua configuração ideal ora na sua existência mais concreta.
        O Renascentismo assenta em características como a harmonia e a perfeição, que perpassavam todas as artes, e o retrato da mulher ideal na pintura e na literatura – leia-se no modelo petrarquista – não é exceção. Este modelo define a mulher como possuidora de cabelos loiros, olhos verdes e faces rosadas. À perfeição física corresponde uma perfeição psicológica de modo que a mulher petrarquista apresenta um espírito calmo e representa uma mulher de poder superior, que exerce um domínio mágico, que cativa e submete o sujeito lírico.


         Camões soube conciliar as nossas tradições literárias, desde a donzela da cantiga de amigo, passando pela divinização da mulher, até ao modelo ideal feminino de Quinhentos.

Fonte: Marnoto, Rita, "Retratos femininos na poesia de Camões" in SILVA, Vitor Aguiar, 2011.

Amor é fogo que arde sem se ver


Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente

É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?



Extrutura Interna:

O soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”, de Luís Vaz de Camões, é uma definição poética do amor. Como se Camões quisesse definir este sentimento indefinível e explicar o inexplicável, colocando imensos contrastes para caracterizar este “mistério”. Para Camões, o Amor (com A maiúscula) é um tipo de ideal superior, perfeito e único, pelo qual há o anseio de atingi-lo, mas como somos imperfeitos e decaídos, somos ao mesmo tempo incapazes de chegar a esse ideal. O amor é visto, então, como um sentimento que envolve sensações e que ocorre quando existe um senso de identidade entre pessoas com identidades bem definidas e diferenciadas.Na realidade o autor procura compreender e definir o processo amoroso. Conceituando a natureza paradoxal do amor, o soneto ressalta em enunciados antitéticos, compondo um todo lógico, o caráter paradoxal do sentimento amoroso.

Camões parece estar coberto de razão ao afirmar que "tão contrário a si é o mesmo amor", mas diversamente do percurso camoniano, ele aponta para a alma, então, o poeta parece chegar a uma conclusão, expressada pela interrogação retórica no último terceto. A forma do soneto corresponde ao tema do poema. 


Extrutura Externa:


Este poema é um soneto, porque é constituído por duas quadras e dois tercetos. Os versos são decassílabos, pois trata-se da Medida Nova (É/ um/ con/ten/ta/men/to/ des/con/ten/(te)).  A rima é interpolada e emparelhada nas primeiras quadras, como se pode verificar no esquema rimático abba. Já nos tercetos, a rima é interpolada (cdc/dcd).



Ondados fios de ouro reluzente

Ondados fios de ouro reluzente,
Que, agora da mão bela recolhidos,
Agora sobre as rosas estendidos,
Fazeis que a sua beleza se acrescente;

Olhos, que vos moveis tão docemente,
Em mil divinos raios encendidos,

Se de cá me levais alma e sentidos,
Que fora, se de vós não fora ausente?

Honesto riso, que entre a mor fineza
De perlas e corais nasce e parece,
Se na alma em doces ecos não o ouvisse!...

Se, imaginando só tanta beleza,
De si em nova glória a alma se esquece,
Que será quando a vir?... Ah! Quem a visse…


Extrutura Interna:
 O soneto aborda o ideal de mulher, mais propriamente, o ideal Petrarquista. Este ideal é sempre descrito como uma mulher perfeita, bela, nobre, só descritível em imagens hiperbólicas. 
O poema apresenta uma enumeração metafórica dos atributos físicos da mulher, sendo apresentados os cabelos: “Ondados fios de ouro reluzente”, rosto metaforizado em “rosas”, os olhos como “raios encendidos”, o riso, e os dentes e os lábios, metaforizados em “perlas e corais”. Esta caracterização respeita o ideal feminino petrarquista e assume também a ausência da amada: “Se na alma em doces ecos não o ouvisse!...”. Assim, afastado do objecto da sua devoção, o poeta deseja a proximidade: “Que será quando a vir… Ah! Quem a visse…”, utilizando um discurso expressivo, marcado pela suspensão das ideias – visível na utilização das reticências – e com expressões interjectivas.

Extrutura externa: O texto é constituído por duas quadras e dois tercetos em metro decassilábico, com um esquema rimático ABBA // ABBA // CDE // CDE, verificando-se a existência de rima interpolada em “A”, emparelhada em “B” e interpolada em “C,D,E”.



Mudam-se os tempos, Mudam-se as vontades

Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.


Extrutura Interna:  
Reflexão sobre a questão da mudança, um tema frequente na Renascença
O texto constrói-se com base nesta ideia, reforçada por outras que apontam na mesma direção, "novas" e "novidades".
Aliada a esta mesma ideia uma outra, a da passagem do Tempo, igualmente muito importante em Camões, à qual ninguém escapa e de que são todos vítimas; mesmo as estações do ano estão sujeitas à passagem deste Tempo.
Na 1ª quadra, o sujeito poético refere que as pessoas mudam e que, por isso, os interesses e os sentimentos também evoluem. A forma de ser, a personalidade alteram-se assim como a confiança em si próprio e nos outros.
A iniciar a segunda quadra, o advérbio Continuamente reforça esta ideia de que a mudança ininterrupta do mundo não se controla e que as mudanças são, normalmente, para pior. As mudanças, a acontecerem são sempre diferentes do que se esperava; das más, ficam as mágoas na memória e das boas, as saudades.
 Nos tercetos salienta-se a seguinte oposição: na Natureza, tudo se renova mas no Homem as mudanças são irreversíveis, sem retorno. 

Após a descrição de uma série de mudanças ocorridas numa realidade ao nível dos sentimentos, partimos para a alteração que se verifica ao nível físico, a que ocorre na Natureza, e que sendo inicialmente para melhor, é depois classificada como tendo sido para pior.

No 2º terceto, 1º verso, retoma-se a ideia desta mudança contínua e incontornável já expressa pelo advérbio da 2ª quadra, Continuamente. O sujeito revela o seu espanto pelo facto de já não se reconhecer no que vai mudando pois a própria mudança está a mudar...


Análise Formal: O poema “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, de Luís Vaz de Camões, é um soneto, pois está estruturado em quatro estrofes, sendo dois quartetos (estrofes de quatro versos cada) e dois tercetos (estrofes de três versos cada). Seus versos, do ponto de vista da metrificação, são decassílabos, isto é, contêm dez sílabas poéticas. Quanto ao esquema rítmico, os versos apresentam duas disposições: a) na primeira estrofe, as sílabas tônicas são a 4ª e a 10ª; b) nas demais estrofes, as sílabas tônicas são a 6ª e a 10ª. Por fim, o esquema rímico apresenta a seguinte distribuição: ABBA ABBA CDC DCD. Como se percebe, nos quartetos, as rimas A são intercaladas (interpoladas ou opostas), na medida em que são os extremos do quarteto, enquanto as rimas B são emparelhadas (paralelas), ou seja, rimam dois a dois; nos tercetos, as rimas C e D são cruzadas (entrecruzadas ou alternadas), na medida em que se revezam nas estrofes.

O dia em que nasci moura e pereça


O dia em que nasci moura e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar;
Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o Sol padeça.

A luz lhe falte, O Sol se [lhe] escureça,
Mostre o Mundo sinais de se acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,                                
A mãe ao próprio filho não conheça.

As pessoas pasmadas, de ignorantes,
As lágrimas no rosto, a cor perdida,
Cuidem que o mundo já se destruiu.

Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao Mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu!

                     Luís de Camões

Extrutura Interna: Este texto coloca-nos de chofre em contacto com o que há de mais íntimo e profundo em Camões, isto é, em contacto com o próprio poeta.
E como? Em primeiro lugar, pela estreita relação Camões-poeta e Camões-personagem, Camões-sujeito e Camões-objecto da sua poesia. Depois, pela situação de desespero que aparece como ponto de chegada de uma série de temas: ilusão, engano, desengano, sofrimento, frustração... Em terceiro lugar, pelo tom de ira e furor, de revolta cega, e contudo lúcida, especificamente camoniana. E depois, ainda, por temas muito característicos e definidores da visão da vida do poeta: a ligação do nascimento e da morte; as relações ambíguas com a mãe; a visão de si próprio como um ser desmesurado, mesmo monstruoso; a sensação de desgraça maior.

Extrutura Externa: O texto é constituído por duas quadras e dois tercetos em metro decassilábico, com um esquema rimático ABBA // ABBA // CDE // CDE, verificando-se a existência de rima interpolada em “A”, emparelhada em “B” e interpolada em “C,D,E”.


Descalça vai pera a fonte



Descalça vai pera a fonte

Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de camalote;

 
Traz a vasquinha de cote,

Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa, e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entraçado,
Fita de cor encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa, e não segura



 Extruturna Interna: O sujeito poético traça o retrato de Lianor, quando esta vai buscar água à fonte. O assunto evidencia a beleza e a graciosidade de Lianor. O “eu” lírico consegue fazer ressaltar a graça e a beleza da rapariga, servindo-se: da expressividade do nome “graça”, dos adjectivos “linda”, “branca”, “formosa”; da expressividade do verbo “chover” (“chove nela graça tanta”), usado aqui com valor transitivo e carregado de sentido hiperbólico (a graça era nela tão evidente e tão abundante como a chuva);

Extrutura Externa: Esta composição poética é um vilancete, pois tem um mote de três versos (terceto)e duas voltas de sete versos(o último verso do mote repete-se, também como último, nas duas voltas).
Os versos são de sete sílabas, isto é, versos de redondilha maior (Des – ca – ça – vai – pa – ra a – fon). Trata-se portanto da “medida velha”, de acordo com as características tradicionais do poema. A rima é emparelhada e interpolada, como se pode verificar no esquema rimático: ABB – CDDCBB.




Os bons vi sempre passar
.

Os bons vi sempre passar        


No mundo graves tormentos;   

E para mais me espantar, 

Os maus vi sempre nadar 

Em mar de contentamentos. 

Cuidando alcançar assim   
O bem tão mal ordenado, 
Fui mau, mas fui castigado: 
Assim que, só para mim   
Anda o mundo concertado. 

Extrutura Interna:
A maldade, a bondade, a sorte e o infurtunio são confrontados neste poema. As pessoas boas não conseguem ser felizes e as pessoas más são sempre afortunadas. O autor tenta então alcançar "o bem tão mal ordenado", ou seja, ser uma pessoa má para encontrar a felicidade, mas é castigado. Assim compreende que apesar de ter feito o que fazem os maus, ele não acreditava no que estava a fazer. E quem não acredita no que faz não pode ser bem sucedido. As pessoas genuinamente boas não conseguem ser más, pois vai contra os seus valores éticos e morais. O poeta concluiu então que só para ele é que “anda o mundo concertado”.


Extrutura Externa: Este poema é uma esparsa, pois é uma pequena composição poetica com apenas uma estrofe com 10 versos (décima). Os versos deste poema têm sete silabas métricas, logo é uma redondilha maior. A rima é interpolada e emperalhada nos primeiros versos abaab/cddcd).




FERNÃO MENDES PINTO

BIOGRAFIA
      Fernão Mendes Pinto nasceu em Montemor-o-Velho, talvez em 1510, e morreu em Almada, supostamente a 8 de Julho de 1583. 
     Pertenceu a uma família modesta, mas a que talvez não faltasse certo grau de nobreza. Ainda pequeno, um seu tio levou-o para Lisboa onde o pôs ao serviço na casa do duque D. Jorge, filho de D. João II. 
  Cerca de 1537, parte para a Índia, ao encontro dos seus dois irmãos. De acordo com os relatos da sua obra Peregrinação, em 1538, fez um cruzeiro ao mar Vermelho e, logo a seguir, participou num combate naval. Sem nunca o ter comprovado, refere também que entrou na Abissínia. Foi cativo dos muçulmanos, vendido a um grego e por este a um judeu que o levou para Ormuz. 
    

      Em 1554, depois de libertar os seus escravos, vai para o Japão como noviço da Companhia de Jesus e como embaixador do vice-rei D. Afonso de Noronha junto do rei do Bungo. Esta viagem constituiu um desencanto para ele, quer no que se refere ao comportamento do seu companheiro, quer no que respeita ao comportamento da própria Companhia. Desgostoso, abandona o noviciado e regressa a Portugal. Aqui, com a ajuda do governador Francisco Barreto, conseguiu arranjar documentos comprovativos dos sacrifícios realizados pela pátria, que lhe deram direito a uma tença, nunca recebida.       Desiludido, foi para Vale de Rosal, em Almada, onde se manteve até à morte e onde escreveu, entre 1570 e 1578, a obra que nos legou, a sua inimitável Peregrinação. Esta só viria a ser publicada 20 anos depois da morte do autor, receando-se que o original tenha sofrido alterações às quais não seriam alheios os Jesuítas.

Fonte: https://www.wook.pt/autor/fernao-mendes-pinto/2138

Estilo de escrita:
    Fernão Mendes Pinto era, de facto, um grande escritor, maravilhoso contador de histórias, com um estilo vivo e fresco, com sentido de humor e penetração psicológica e uma apurada capacidade critica.

Fonte: AGUIAR, joão, "O grande peregrino", in Super Interessante, desembro de 2007


Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto
A Peregrinação no nosso tempo, como no século em que foi publicada, continua a conhecer um sucesso invulgar.
Fonte: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/8836.pdf

Especie de livro-sintese, ela incorpora e ultrapassa os principais modelos do século XVI: a crónica, a novela de aventuras e a hagiografia.  A Peregrinação não é nenhuma delas em particular, uma vez que promove um verdadeiro baralhamento de fronteiras entre géneros.
Netse borrão discursivo sobressai uma iga mestra: O relato de viagem: se viajar é viver, viver é viajar.
Vijar no passsado era compra uma cara passagem para o imprevisivel, cujo preço, muitas vezes era a própria vida.  Prém, havia homens dispostos a viajar parezosamente o desconhecido e Fernão Mendes Pinto foi um deles. Para ele, não lhe bastou uma única viajem; foi necessário, anos depois, reiventá-la em palavras, uma astuta maneira de viajar de novo, dividindo-a agora com esses viajantes estranhos - os leitores.

Fonte: LIMA, Francisco Ferreira de 2011. " A Peregrinação ou o outro livro das maravilhas", in BUESCU, Helena, e SILVA, Teresa Cristina Cerdeira.




Bocage
Biografia: 

          O famoso poeta português do século XVIII, Manuel Maria de Barbosa I-Hedois Du Bocage nasceu a 15 de setembro de 1765 na cidade de Setúbal. Ele foi um poeta árcade precursor do Romantismo, e alguns historiadores acreditam que ele foi, possivelmente, o maior representante do arcadismo em Portugal. 
  Mesmo sendo ícone do movimento árcade, Bocage também é inserido no período de transição do estilo clássico ao romântico, que acaba tendo forte presença na literatura portuguesa do século XIX.  Com oito anos de idade,  já demonstrava talento para a literatura e é nesse período que surgem as suas primeiras composições. Em 21 de dezembro de 1805, Bocage falece em Lisboa.
       Não há dúvida de que foi Bocage uma das mais notáveis expressões poéticas da língua portuguesa. Há mesmo quem afirme que Bocage só não ultrapassou a Camões, assim sendo o segundo poeta da língua. 
Fontes: http://www.estudopratico.com.br/bocage-biografia-e-obras/ http://www.cmjornal.xl.pt/opiniao/detalhe/bocage-o-grande-perfil.html
Características neoclássicas que podem ser encontradas na poesia de Bocage:

·         Carpe diem (o desejo de aproveitar a vida, a juventude);
·         Fugere Urbem (a vontade de fugir da cidade para o campo);
·         Locus Amoenus (observa a natureza como um lugar agradável)*;
·         Aurea Mediocritas (o desejo de uma vida simples, sem excessos);
·         Mitologia greco-latina (presença de elementos da mitologia);


   Características Pré-Românticas que podem ser encontradas na poesia de Bocage:

·      Emotividade (expressão da emoção em oposição à razão que o persegue);
·      Individualismo e egocentrismo (expressos por meio da autopiedade);
·    Religiosidade (nos seus últimos poemas, Bocage arrepende-se de ter desrespeitado a igreja);

 Uma das principais características da primeira fase da poesia de Bocage foi o uso de uma linguagem popular, muitas vezes imprópria e vulgar, carregada de ironia e sarcasmo (conteúdo humorístico e satírico).


Fonte: http://pensandoemliteratura.webnode.com.br/news/bocage/
Análise do poema "Já Bocage  não sou!... À cova escura"
Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se  me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

Bocage

Extrutura Interna: 
Este soneto remete para uma vida plena de vivências e em que o sujeito poético estrutura as suas ideias apontando para um passado caracterizado por um conjunto de erros cometidos e em que faz um apelo ao futuro.
O sujeito, em tom  confidencial, revela-nos um quadro de sentimentos cheios de agonia, próprios do sentir pré-romântico. O poema evidencia um carácter autobiográfico e autocrítico.

Em suma, concluímos que Bocage, nesta fase terminal da sua vida, reconcilia-se com os valores morais e sociais que sempre criticou e que lhe causaram tormento e infelicidade. Neste soneto,ele pretende mostrar-nos como foi o seu carácter, que percurso fez e que juízo final apresenta de si próprio. 
 Análise Formal:
 Inicialmente, a poesia é um soneto, pois possui duas quadras e dois tercetos e refere-se aos versos constituidos por dez silabas métricas (versos decassilabicos).  O esquema rimático das quadras é cruzada e emparelhada (a/baab/abba) e nos tercetos é cruzada (cdc/dcd) .