11º ano - 1º Período
Biografia de Almeida Garrett
João Batista da
Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu no Porto dia 4 de Fevereiro de 1799 e
faleceu em Lisboa dia 9 de Dezembro de 1854.
![Almeida Garrett](https://static.todamateria.com.br/upload/57/76/5776f5e72aeec-almeida-garrett.jpg)
A
vivência académica seria determinante na sua iniciação política e filosófica.
Ainda estudante, participa no movimento conspirativo que conduziria à revolução
de 1820. Paralelamente despontava, irreverente, a vocação literária: no ano
seguinte surgia o seu primeiro livro, O Retrato de Vénus, um ousado
poema que lhe mereceu um processo em tribunal. Criou o espírito funda O Entreato – Jornal de Teatros e leva à cena, com grande êxito, a peça Um Auto de Gil Vicente.
Almeida Garrett- características literárias
A personalidade
literária de Almeida Garrett constitui-se e afirma-se num quadro cultural
extremamente complexo. Garrett pode definir-se como o escritor que representa
um tempo que é sobretudo de transição: transição entre um Neoclassicismo com
marcas visíveis do pensamento iluminista e um Romantismo que Garrett,
juntamente com outros tratou de difundir entre nós.
Garrett
constitui uma personalidade já de si com uma dimensão verdadeiramente
literária, no sentido em que é dotado de uma contextura psicológica peculiar.
Convida a uma espécie de fusão entre a representação literária de temas e
atitudes românticas e a vivência no quotidiano.
Gradualmente
seduzido pelos valores do romantismo, o jovem poeta exilado fixa no prólogo de
Camões, princípios que regem uma criação literária dominada por procedimentos
tipicamente a românticos: a altiva consciência da inovação, a rejeição das
regras, o primado do sentimento, o culto da independência nos planos estéticos
e político.
O relevo de que
Garrett entre nós desfruta, como figura dominante do romantismo, liga-se á
atividade política do autor; É o seu empenhamento na revolução de setembro que
o leva a aprofundar a vocação gramática, não só como responsável pelas reformas
empreendidas, mas também como dramaturgo. Obras como um auto de Gil Vicente, Dona
Filipa de Vilhena constituem não só o contributo Garrettiano para a reforma do
teatro português, mas também por certo dos poucos exemplos qualitativamente
válidos que nos fiaram, como resultado desse impulso reformador.
Almeida Garrett - Romantismo
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Nos seus poemas, o erotismo vai de encontro à ideia do "desejar sem amar". para ele, este amor não é virtuoso e, portanto, pode levá-lo ao inferno. Um amor que é fonte de prazer e dor.
Apesar da crítica considerar Almeida Garrett um poeta menor, quando comparado a Bocage, por exemplo, considero-o um grande génio da Literatura portuguesa, pois sua obra tem como tema central o amor e isso é levado ao leitor de várias formas(o que só revela sua criatividade). Seja sagrado ou profano, o amor é a temática de ouro dos grandes poetas, e Almeida Garrett soube expressá-lo muito bem, o que o distingue de outros poetas portugueses.
O contexto social e político do Romantismo Português:
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O Romantismo:
Quando falamos do Romantismo a palavra designa apenas um período ou movimento literário e artístico, que marca uma viragem total na concessão da arte e da própria vida, cortando com a longa tradição do calculismo europeu.
As origens do movimento são de diversas natureza, podendo falar-se de origens sociais, políticas, filosóficas e literárias:
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2- Como origens políticas: Paralelamente ás transformações sociais, ocorreram transformações políticas no sentido da construção de regimes mais democráticos, em Inglaterra ( revolução Inglesa de 1688) e na França- Revolução Francesa.
3- Como origens Filosóficas do Romantismo prendem-se com o desenvolvimento das filosofias idealistas na Alemanha, com Fichte e Kant. Segundo estes filósofos o Eu é a única realidade original, dinâmica e criadora: o mundo exterior não existe em si mesmo, a criação do Eu.
4- Como origens literárias, os romantismos europeus vão entroncar-se nos pré-românticos.
A palavra romantismo significou desde o inicio " tendência literária oposta ao classicismo". E é, efetivamente, na consciência dos românticos, um tipo de arte e literatura que se opõe á arte e literatura classicas.
O Romantismo aboliu a noção de géneros rigidos dos clássicos; mas, em compensação, criou géneros novos, mistos:
1- no domínio narrativo: o romance; o romance contemporâneo, de costumes
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3- no domínio do dramático: a tragédia e a comédia clássicas foram substituídas pelo drama.
Substituiu a natureza e a paisagem clássica, feitas de harmonia e luz, pela natureza romântica, feita da noite , uma natureza dinâmica e não estática, como era a natureza clássica.
Finalmente, concebeu um novo tipo de herói e de heroína:
1- O herói romântico vive pelo sentimento e pelo instinto;
2- É insatisfeito, buscando o absoluto da Verdade, da Justiça, do Amor;
3- É um rebelde, de proscritos, exilados, justiceiros- é um ser excessivo;
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5- É o herói fatal, que causa a perdição daqueles que o amam, dos que o rodeiam; está como que predestinado á sua perdição e á dos que dele se aproximam;
6- Torna-se um solitário e a ama a solidão;
7- Sente-se transportado por um "sopro";
8- Do ponto de vista do retrato físico, o herói romântico é normalmente magro, pálido, cabelos soltos ao vento.
O Romantismo em Portugal
Advertência a
Folhas Caídas
A maior parte das composições poéticas é inspirada na paixão avassaladora que Almeida Garrett sentiu por a Viscondessa da Luz.
São inúmeras as marcas românticas presentes nos poemas desta colectânea: a)Tratamento do tema dicotomia amor/paixão;
b)Confessionalismo literário;
c)Defesa do mito de Rousseau do bom selvagem – crença na corrupção inerente ao homem social que se opõe à sua bondade inata;
d) Apologia da liberdade de sentir/amar sem quaisquer constrangimentos sociais – ex: o casamento; e) Dicotomia mulher-anjo / mulher fatal; f) Concepção de amor como força avassaladora, tirana e irracional;
A linguagem do autor é simples, por vezes coloquial e familiar, não sendo, no entanto, vulgar ou descuidada. O estilo é hiperbólico, exclamativo, socorrendo-se de inúmeros artifícios como: METÁFORA – Pescador da barca bela / onde vais pescar com ela…-; INTERROGAÇÃO RETÓRICA – Anjo és tu ou és mulher?-;
ADJECTIVAÇÃO EXPRESSIVA - e só te quero / de um querer bruto e fero / que não chega ao coração…; ANTÍTESE – Não te amo, quero-te! EXCLAMAÇÃO – Olha bem estes sítios queridos! / vê-os bem neste olhar derradeiro!…; PERSONIFICAÇÃO – olha o verde do triste pinheiro, entre muitos outros.
Víbora
Como a víbora gerado,
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Que à nascença o despedaçou.
Para ele nascer morri;
E em meu cadáver nutrido,
Foi a vida que eu perdi
A vida que tem vivido.
GARRETT, Almeida
Análise Interna:
Análise Interna:
O tema do poema é o amor amaldiçoado.
Desenvolvimento do tema/assunto: no poema "Víbora", o sujeito poético exprime a revolta contra o poder avassalador da paixão. O amor amaldiçoado pelo "eu" lírico exprime-se pela antítese vida /morte ("Para ele nascer morri").
Estrutura interna: o poema poderá dividir-se em duas partes lógicas. O primeiro momento corresponde à primeira quadra, na qual o "eu" lírico refere a desilusão provocada pelo amor que, desde o início, despedaçou o seu coração. Saliente-se o recurso a vocábulos de conotação negativa a sugerir esta ideia: "víbora"; a"maldiçoado" e "despedaçado".
A segunda estrofe indica as consequências nefastas do amor, que provocou a "morte" do sujeito poético, e onde o "sentido encantado" que se pode observar noutros poemas de Garrett desaparece, pelo que podemos dizer que é a segunda parte do poema. O tom hiperbólico "Para ele nascer morri" intensifica a ideia de sofrimento e de amargura.
Desenvolvimento do tema/assunto: no poema "Víbora", o sujeito poético exprime a revolta contra o poder avassalador da paixão. O amor amaldiçoado pelo "eu" lírico exprime-se pela antítese vida /morte ("Para ele nascer morri").
Estrutura interna: o poema poderá dividir-se em duas partes lógicas. O primeiro momento corresponde à primeira quadra, na qual o "eu" lírico refere a desilusão provocada pelo amor que, desde o início, despedaçou o seu coração. Saliente-se o recurso a vocábulos de conotação negativa a sugerir esta ideia: "víbora"; a"maldiçoado" e "despedaçado".
A segunda estrofe indica as consequências nefastas do amor, que provocou a "morte" do sujeito poético, e onde o "sentido encantado" que se pode observar noutros poemas de Garrett desaparece, pelo que podemos dizer que é a segunda parte do poema. O tom hiperbólico "Para ele nascer morri" intensifica a ideia de sofrimento e de amargura.
Análise Externa - Este poema apresenta duas quadras, cujos versos são constituídos por 8 e 7 sílabas métricas (ex: "Co|mo a |ví|bo|ra| ge|ra| (do),/
No |co|ra|ção| se| for|mou ); o esquema rimático é abab/caca, sendo a rima cruzada.
No |co|ra|ção| se| for|mou ); o esquema rimático é abab/caca, sendo a rima cruzada.
Questão Coimbrã
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Geração de 70
Assim se designa o grupo de jovens intelectuais portugueses que, primeiro em Coimbra e depois em Lisboa, manifestaram um descontentamento com o estado da cultura e das instituições nacionais. O grupo fez-se notar a partir de 1865, tendo Antero de Quental como figura de proa e de maior profundidade reflexiva, e integrando ainda literatos como Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Teófilo Braga, Eça de Queirós, Oliveira Martins, Jaime Batalha Reis e Guilherme de Azevedo. Juntos ou, como sucedeu mais tarde, trilhando caminhos de certa forma divergentes, estes homens marcaram a cultura portuguesa até ao virar do século (se não mesmo até à República), na literatura e na crítica literária, na historiografia, no ensaísmo e na política.
Os homens da Geração de 70 tiveram possibilidade e, sobretudo, apetência de contacto com a cultura mais avançada da Europa como não se via em Portugal desde o tempo da formação de um Garrett e de um Herculano. Puderam, pois, aperceber-se da diferença que havia entre o estado das ciências, das artes, da filosofia e das próprias formas de organização social no país e em nações como a Inglaterra, a França ou a Alemanha. Em consequência, esta juventude cosmopolita nas leituras, liberal e progressista não se revia nos formalismos estéticos que grassavam nem naquilo que consideravam ser a estagnação social, institucional, económica e cultural a que assistiam.
O seu inconformismo havia de se manifestar em diversas ocasiões, com repercussões públicas dignas de registo. Em 1865 é despoletada a chamada Questão Coimbrã, que opôs o grupo, a pretexto de uma obra literária de mérito discutível, ao ultrarromantismo instalado que António Feliciano de Castilho personificava. Travou-se uma acesa polémica, à qual subjaziam grandes diferenças ao nível das referências estéticas mas também ideológicas. O grupo reunir-se-ia depois na capital, formando o Cenáculo, e em 1871 organizou as Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, com as quais chamou definitivamente a atenção da sociedade.
Nos anos seguintes, embora a atitude de crítica e de intervenção cultural e política se mantivesse, os membros do grupo foram definindo caminhos pessoais independentes, ora dedicando-se mais a umas atividades, ora a outras. Antero suicidou-se em 1891, e dir-se-ia que esse gesto simboliza o destino destes homens a caminho do final do século, em desilusão progressiva com o país e o sentido das suas próprias vidas.
Conferencias do Casino Lisbonense
O programa das Conferências, que surgiam como uma espécie de consequência natural das discussões ideológicas travadas no Cenáculo, anunciava "ligar Portugal com o movimento moderno", "agitar na opinião pública as grandes questões da Filosofia e da Ciência Moderna" e "estudar as condições da transformação política, económica e religiosa da sociedade portuguesa".
A conferência inaugural, intitulada "O espírito das conferências", foi proferida por Antero de Quental, que afirmou a necessidade de regenerar Portugal "pela educação da inteligência e pelo fortalecimento da consciência dos indivíduos". Na segunda conferência, o mesmo Antero analisou as "Causas da decadência dos povos peninsulares", que, na sua opinião, correspondiam ao catolicismo pós-tridentino, que impôs o obscurantismo à centralização política das monarquias absolutas, que determinou o aniquilamento das liberdades locais e individuais, e à política expansionista ultramarina, que impediu o desenvolvimento da pequena burguesia. A terceira conferência, intitulada "A literatura portuguesa", foi pronunciada por Augusto Soromenho, que denunciou a decadência da literatura portuguesa e defendeu a necessidade de "dar por base à educação a moral, o dever, do que aproveitará a literatura". A quarta conferência, "A Nova Literatura (O Realismo como nova expressão da Arte)", foi proferida por Eça de Queirós, que aí lançou os fundamentos da sua conceção de Realismo, influenciada por Flaubert, Proudhon e Taine. A quinta conferência coube a Adolfo Coelho, que avançou algumas propostas revolucionárias para a reorganização do ensino em Portugal, a mais importante das quais consistia na "separação completa do estado e da igreja".
De qualquer modo, entre os intelectuais portugueses, ficou o gérmen da modernidade do pensamento político, social, pedagógico e científico que na França, na Alemanha e na Inglaterra se fazia sentir. Este espírito revolucionário e positivista dominava a maioria da jovem classe pensante.
![Resultado de imagem para biografia de antero de quental](https://www.citador.pt/images/autorid20127.jpg)
Antero de Quental (1842-1891) foi um poeta e filósofo português. Foi um verdadeiro líder intelectual do Realismo em Portugal. Dedicou-se à reflexão dos grandes problemas filosóficos e sociais de seu tempo. Contribuiu para a implantação das ideias renovadoras da geração de 1870.
Em 1865, um grupo de estudantes da Universidade de Coimbra, critica as velhas ideias do Romantismo, o que fez surgir uma polémica entre a velha e a nova geração de poetas. Essa manifestação originou-se de um texto do poeta romântico António Feliciano de Castilho, no qual ele criticava as novas ideias literárias de Antero de Quental e Teófilo Braga. Antero responde de maneira violenta, escrevendo uma carta aberta que foi divulgada com o título de "Bom senso e bom gosto", nela Antero acusa Castilho de obscurantismo e defende a liberdade de pensamento dos novos escritores. Essa polémica ficou conhecida como a "Questão Coimbrã. Neste mesmo ano ele publica "Odes Modernas".
Biografia do Antero de Quental
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Antero de Quental (1842-1891) foi um poeta e filósofo português. Foi um verdadeiro líder intelectual do Realismo em Portugal. Dedicou-se à reflexão dos grandes problemas filosóficos e sociais de seu tempo. Contribuiu para a implantação das ideias renovadoras da geração de 1870.
Antero de Quental (1842-1891) nasceu na localidade de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores, Portugal, no dia 18 de abril de 1842. Filho do combatente Fernando de Quental e Ana Guilhermina da Maia iniciou seus estudos em Ponta Delgada. Com 16 anos foi estudar Direito em Coimbra. Em 1861 publicou "Sonetos de Antero".
![Resultado de imagem para biografia de antero de quental](https://www.filorbis.pt/filosofia/antero.jpg)
Antero de Quental expressa nos seus sonetos a sua inquietação religiosa e metafísica constituindo a parte mais importante de sua obra: "Sonetos de Antero" (1861), "Primaveras Românticas" (1872), "Sonetos Completos" (1886) e "Raios de Extinta Luz" (1892). É considerado, ao lado de Bocage e Camões, os grandes sonetistas da literatura portuguesa.
Antero Tarquínio de Quental sofrendo de depressão, suicida-se no dia 11 de setembro de 1891, em Ponta Delgada, Portugal, a sua terra natal.
Antero Apolineo e Antero Dionisiaco
Existem "dois Anteros". Um pode se considerar o Antero "luminoso" ou opolineo e o outro Antero "noturno" romântico. O próprio autor autotitulava se nos textos desta maneira, consciente da sua instabilidade mental. O Antero luminoso ou apolineo ao Antero noturno ou romântico, reporta-se a poemas que revelam, um, uma ação combativa e um projeto de renovação e de um ideal social, um conflito psicológico e a aproximação ao sobrenatural.
A um poeta
Surge et ambula!
![](https://i145.photobucket.com/albums/r205/micaelense/AnterodeQuentalbyGoogle_zpsa9d974b4.jpg)
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,
Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...
Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate.
Antero de Quental, Sonetos
Estrutura Interna:
Neste soneto, o termo "Poeta" poderá remeter para a figura de um idealista, possivelmente em consonância com o espírito da época. A referência ao espírito do mundo romântico, lúgubre e sombrio, percebe-se quando, personificando o sol, usa a metáfora em "Afugentou as larvas tumulares" (v. 6) e "Um mundo novo espera só um aceno" (v. 8). Mas o que interessa, sobretudo, é perceber que o sujeito lírico faz um apelo a todo aquele que é capaz de sonhar, mas vive alheado e num estado de inércia quando é necessária a luta revolucionária ao lado de um povo que sofre e que busca a liberdade.
Na primeira quadra (que constitui uma tese argumentativa) encontramos a estagnação, a passividade e o alheamento do poeta em relação à realidade social e política do mundo, "Longe da luta e do fragor terreno" (v. 4); na segunda quadra e no primeiro terceto (antítese, com a explanação e confirmação da tese), surge o apelo à consciencialização do poeta para a necessidade de mudar de atitude pois está em causa um povo que precisa da solidariedade, "Escuta! é a grande voz das multidões! I São teus irmãos" vv. 9, 10); no último terceto (síntese conclusiva), irrompe o apelo para a ação - "Ergue-te" (v. 12) - destacando a importância da poesia como arma de combate, como voz da revolução, apelidando o Poeta de "soldado do Futuro" (v. 12) e "Sonhador" (v. 14).
Em todo o soneto se encontra um apelo para a necessidade de agir e que está bem expressa na gradação verbal: "Tu, que dormes", "Acorda!", “Escuta!”, "Ergue-te", "Faze". Este poema mostra bem a sua aposta na poesia como "voz da revolução".
NOX
![ANTERO DE QUENTAL ANTERO DE QUENTAL](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBys7BoSAErJk7hcwVHgRR_tVIrYoNq2XmO5jisjhv3gSTgdr7hix5ZjGNJkIBTDdR9YszhEzxvSJH2uuV05EdehlIBUUNJBE70Iea2mIsNUCw5EwDfvRSFZpcZuagHbGwM54QZig3t_he/s1600/Antero.jpg)
Quando olho e vejo, à luz cruel do dia,
Tanto estéril lutar, tanta agonia,
E inúteis tantos ásperos tormentos...
Tu, ao menos, abafas os lamentos,
Que se exalam da trágica enxovia...
O eterno Mal, que ruge e desvaria,
Em ti descansa e esquece alguns momentos...
Oh! Antes tu também adormecesses
Por uma vez, e eterna, inalterável,
Caindo sobre o Mundo, te esquecesses,
E ele, o Mundo, sem mais lutar nem ver,
Dormisse no teu seio inviolável,
Noite sem termo, noite do Não-ser!
Antero de Quental
Estrutura Interna:
O poeta, nas quadras, começa por invocar a Noite, caracterizando-a por oposição ao dia onde reina o Mal; nos tercetos, manifesta o desejo de que a noite seja a libertação deste Mal que assola o Mundo, impedindo-o de “lutar” e “ver”.
Note-se que esta Noite surge conotada com a Morte pois é "Noite sem termo, noite do Não-ser!" (v. 14). A noite apresenta-se como fim eterno, que anula toda a possibilidade de ser (capaz de libertar totalmente da adversidade sensível).
Os elementos apolíneos, que surgem na referência à "luz cruel do dia" (v. 2) em que decorreram as suas lutas, são substituídos pelos noturnos, que melhor lhe permitem exprimir a agonia e a inutilidade dos tormentos passados. Considera que o seu "apostolado social" não lhe permitiu a realização do sonho, não foi mais do que ''Tanto estéril lutar, tanta agonia" (v. 3). Sente inglória a sua luta e a luta do Homem, ao longo da história. Resta-lhe o desejo de uma noite eterna que adormeça e que caia sobre o Mundo para sempre.
Antero de Quental mostra-se atormentado pela sede de infinito. Nos seus sonetos, há a dor e a esperança, a razão e o sentimento, a revolta e a fé, o combate e a desilusão.
A poesia de Antero de Quental está sempre carregada de misticismo, de crítica filosófica, histórica, social e política. Como afirma Oliveira Martins, Antero é "um poeta que sente, mas é um raciocínio que pensa. Pensa o que sente; sente o que pensa".
Estrutura Externa: A composição poética pode ser considerada um soneto(pequeno poema composto de catorze versos, divididos em dois quartetos (duas estrofes com quatro versos) e dois tercetos (duas estrofes com três versos. Todos os versos são decassílabos.)
![Carlos Pereira da Silva Carlos Pereira da Silva](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDXK172CHc6bnQPT9GE6boKPwuapFUd3uUar4KJ9bCQzp-nWCuz2_eFUgrtTtd4utMFbNSX1Rz_ztQj1g63xyRG9988pzp6fw482CNKOW_q23mDtpM-HwDweBYdnD1fPMaaAShLSo10Sg/s200/st_Carlos+Pereira+da+Silva.bmp)
Sonho que sou um cavaleiro andante,
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino2 do amor, busco anelante3
O palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante4
Na sua pompa e aérea formosura!
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas d'ouro com fragor...5
Mas dentro encontro só, cheio de dor
Silêncio e escuridão - e nada mais!
Antero de Quental
Estrutura Interna: Em “O Palácio da Ventura”, os momentos de dúvida e de incerteza,de esperança e de desesperança, estão bem patentes.
Desde o início se percebe que há uma busca de uma felicidade (palácio encantado), mas que só encontra a desilusão. Caminha, ansiosamente, na busca da concretização de um sonho, mas no final apenas encontra "Silêncio e escuridão e nada mais!"
O próprio caminho é feito de confiança e deceção, de expectativa e desengano. Na primeira parte (até ao verso 6), há a busca da felicidade (vv. 1 a 4), mas é tomado pelo cansaço e pela desilusão (vv. 5, 6). O entusiasmo é substituído pelo desalento. Na segunda parte (vv.7 a 12), verifica-se uma ilusão momentânea que o leva ao grito de ansiedade "Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!" (v. 12). A adversativa mas (v. 13), com que inicia a terceira parte, volta a mostrar a desilusão, desta vez mais forte e dorida.
Estrutura Externa: A composição poética pode ser considerada um soneto(pequeno poema composto de catorze versos, divididos em dois quartetos (duas estrofes com quatro versos) e dois tercetos (duas estrofes com três versos. Todos os versos são decassílabos.)
Cesário Verde- Biografia
O poeta português José Joaquim Cesário Verde nasceu em Lisboa no dia 25 de fevereiro de 1855. Conhecido por seus dois últimos nomes, ele é visto como um dos predecessores e grande influência do estilo poético realizado no século XX em Portugal.
![Resultado de imagem para Cesário Verde- Biografia](https://clientes.netvisao.pt/cmatosma/images/cesario5.jpg)
A tuberculose foi uma maldição na vida de Cesário Verde. Após perder a irmã e o pai para esta doença, o poeta começa a ter sintomas da enfermidade em 1877. Apesar da tristeza que tudo isso lhe causava, o mal lhe serviu de inspiração para a produção de um de seus mais belos poemas, “Nós”, de 1884.
Cesário Verde não conseguiu escapar da doença e faleceu aos 30 anos, em dezanove de julho de 1886. Silva Pinto, em sua homenagem, organizou uma compilação com a poesia do amigo, que chamou de “O Livro de Cesário Verde”. Em 1901 este livro foi publicado.
kij
http://www.escolavirtual.pt/assets/conteudos/downloads/11por/11por2908pdf01.fh11.pdf Num Bairro Moderno
Dez horas da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada;
Pelos jardins estancam-se as nascentes,
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada.
Rez-de-chaussée repousam sossegados,
E dum ou doutro, em quartos estucados,
Ou entre a rama do papéis pintados,
Reluzem, num almoço, as porcelanas.
Como é saudável ter o seu conchego,
E a sua vida fácil! Eu descia,
Sem muita pressa, para o meu emprego,
Aonde agora quase sempre chego
Com as tonturas duma apoplexia.
E rota, pequenina, azafamada,
Notei de costas uma rapariga,
Que no xadrez marmóreo duma escada,
Como um retalho da horta aglomerada
Pousara, ajoelhando, a sua giga.
E eu, apesar do sol, examinei-a.
Pôs-se de pé, ressoam-lhe os tamancos;
E abre-se-lhe o algodão azul da meia,
Se ela se curva, esguelhada, feia,
E pendurando os seus bracinhos brancos.
Do patamar responde-lhe um criado:
"Se te convém, despacha; não converses.
Eu não dou mais." È muito descansado,
Que vem bater nas faces duns alperces.
Subitamente - que visão de artista! -
Se eu transformasse os simples vegetais,
À luz do Sol, o intenso colorista,
Num ser humano que se mova e exista
Cheio de belas proporções carnais?!
Bóiam aromas, fumos de cozinha;
Com o cabaz às costas, e vergando,
Sobem padeiros, claros de farinha;
E às portas, uma ou outra campainha
Toca, frenética, de vez em quando.
E eu recompunha, por anatomia,
Um novo corpo orgânico, ao bocados.
Achava os tons e as formas. Descobria
Uma cabeça numa melancia,
E nuns repolhos seios injetados.
As azeitonas, que nos dão o azeite,
Negras e unidas, entre verdes folhos,
São tranças dum cabelo que se ajeite;
E os nabos - ossos nus, da cor do leite,
E os cachos de uvas - os rosários de olhos.
Há colos, ombros, bocas, um semblante
Nas posições de certos frutos. E entre
As hortaliças, túmido, fragrante,
Como alguém que tudo aquilo jante,
Surge um melão, que lembrou um ventre.
E, como um feto, enfim, que se dilate,
Vi nos legumes carnes tentadoras,
Sangue na ginja vívida, escarlate,
Bons corações pulsando no tomate
E dedos hirtos, rubros, nas cenouras.
O Sol dourava o céu. E a regateira,
Como vendera a sua fresca alface
E dera o ramo de hortelã que cheira,
Voltando-se, gritou-me, prazenteira:
"Não passa mais ninguém!... Se me ajudasse?!..."
E, pelas duas asas a quebrar,
Nós levantamos todo aquele peso
Que ao chão de pedra resistia preso,
Com um enorme esforço muscular.
"Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!"
E recebi, naquela despedida,
As forças, a alegria, a plenitude,
Que brotam dum excesso de virtude
Ou duma digestão desconhecida.
E enquanto sigo para o lado oposto,
E ao longe rodam umas carruagens,
A pobre, afasta-se, ao calor de agosto,
Descolorida nas maçãs do rosto,
E sem quadris na saia de ramagens.
Um pequerrucho rega a trepadeira
Duma janela azul; e, com o ralo
Do regador, parece que joeira
Ou que borrifa estrelas; e a poeira
Que eleva nuvens alvas a incensá-lo.
Chegam do gigo emanações sadias,
Ouço um canário - que infantil chilrada!
Lidam ménages entre as gelosias,
E o sol estende, pelas frontarias,
Seus raios de laranja destilada.
E pitoresca e audaz, na sua chita,
O peito erguido, os pulsos nas ilhargas,
Duma desgraça alegre que me incita,
Ela apregoa, magra, enfezadita,
E, como as grossas pernas dum gigante,
Sem tronco, mas atléticas, inteiras,
Carregam sobre a pobre caminhante,
Sobre a verdura rústica, abundante,
Duas frugais abóboras carneiras.
Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'
Estrutura Interna:
Poema da 3ª fase do poeta, porventura a mais importante da sua carreira literária, abrange um conjunto de poemas que constituem uma busca febril das cores, das luzes, das sombras, dos ruídos, dos odores, das dores e dos fantasmas que pulsam em tudo o que o rodeia na cidade de Lisboa.
Surgem-nos:
- a descrição impressionista do real;
- a fase pictórica do poeta.
Aspetos igualmente importantes a considerar neste poema:
- encontramos nele o poeta da cidade – “figura multifacetada”;
- neste poema, C.V. surge perfeitamente integrado no espaço citadino;
- através da sua visão transfiguradora, o campo invade simbolicamente a cidade, ocorrendo a metamorfose dos vegetais que a vendedeira traz no seu cabaz.
Neste poema, Cesário revela igualmente uma consciência social onde as vítimas da exploração citadina são o sintoma da injustiça social que contrasta com o luxo e a riqueza das casas apalaçadas (ver 1ª estf.).
Estrutura Externa: O poema é constituído por 20 estrofes, cada estrofe tem 5 versos (quintilha).Os versos são decassilábicos. A rima é do tipo A B A A B (rimas cruzadas e emparelhadas).
Camilo Pessanha
Camilo de Almeida Pessanha nasce em Coimbra, na freguesia da Sé Nova, cerca das 23:00 horas do dia 7 de Setembro de 1867, filho de Maria do Espírito Santo Duarte Nunes Pereira e de Francisco António de Almeida Pessanha (então estudante do 3o ano de Direito).
Em 1891, termina o curso de Direito e em Outubro do ano seguinte ingressa na magistratura, ocupando o lugar de procurador régio de Mirandela. Dois anos mais tarde, parte como advogado para Óbidos, com o juiz Alberto de Castro Osório. Talvez para “poder ajudar o seu irmão Francisco a formar-se” ou talvez devido a “uma tremenda decepção que a vida profissional inflingiu ao jovem subdelegado” )Camilo Pessanha apresenta-se a um concurso para professores no recentemente criado Liceu de Macau (Diário do Governo, 19/08/1893) e é nomeado em 18/12/1893 professor de Filosofia; entre outros nomeados encontramos Horácio Poiares, Mateus de Lima, João Pereira Vasco e, pouco antes, Wenceslau José de Sousa Morais. A 17 de Março de 1894 parte para Macau no barco a vapor espanhol, Santo Domingo.
Camilo Pessanha e o Simbolismo
O Simbolismo é um movimento literário que surge em finais do século XIX e que tem por base o conceito de símbolo.
De certo modo, o Simbolismo instaurou-se em Portugal como uma negação absoluta de toda a poesia que surgiu antes das propostas revolucionárias e inovadoras dos simbolistas que apregoavam a legitimidade da “poesia pura”.
A poesia de Camilo Pessanha reúne os aspectos mais marcantes da escola simbolista. Aliado ao conceito de símbolo, encontramos a arte da sugestão que em Pessanha se traduz na utilização da técnica impressionista, na imagem visual e sonora, com a finalidade de sugerir sensações e convidar o leitor a interpretar estados de alma, sem nunca se deter “na descrição que levaria à objectividade. Por isso, porque propenso ao sonho, pensa por associação de ideias, sem propender para o Infinito.
Estilos e temáticas
Camilo Pessanha foi o poeta mais autenticamente Simbolista de Portugal, e um grande inovador da poética de seu país, cuja influência se estende até os modernistas da geração Orpheu, sobretudo em Fernando Pessoa. Afastou-se do discursivismo neo-romântico dos poetas do seu tempo (Antônio Nobre,poe inovou a escrita poética, incorporando procedimentos próximos aos do decadentismo de Verlaine, em especial no que se refere à aproximação entre a poesia e a música.
Apresentando uma visão extremamente pessimista de mundo, a obra poética de Camilo Pessanha sugere uma visão de mundo sobretudo marcada pela ótica da ilusão e da dor.
“O poeta – afirma o crítico Massaud Moisés -, dotado de agudíssima sensibilidade, que se conhece e se auto-analisa, só encontra motivo de ser naquilo de que foge tanto: a Dor, causa e efeito, princípio e fim. É, por isso, o poeta da Dor refinadamente sutilizada e diafanizada, a ponto de se tornar ídolo:
“Porque a dor, esta falta d’harmonia (...) / Sem ela o coração é quase nada.”
A percepção de mundo em Camilo Pessanha é fragmentária, aparentemente desarticulada, expressa através de sensações que o poeta considera sem sentido. A desagregação formal parece corresponder à desagregação do próprio poeta opiômano, hipersensível e inadaptado.
Lírico da desesperança, da dor e da ilusão, seu pessimismo tem laivos do decadentismo francês e do budismo que conheceu em Macau. É constante a sensação de estranheza diante do mundo, da alucinação, expressas numa linguagem poderosa, sugestiva, tecida com metáforas insólitas, símbolos, sinestesias e intensa musicalidade (aliterações, assonâncias etc.).
Aproximou-se do rigor formal de Mallarmé, sem a determinação intelectual do poeta francês. A intelectualização dos poemas de Camilo Pessanha é marcada pelo pessimismo em relação ao mundo, que lhe parecia em degenerescência. A adesão do poeta à estética decadentista-simbolista não era simples modismo – era existencial.
A Interrogação
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crês? nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito,
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo.
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
Extrutura Externa: Este poema é constituído por cinco quadras. A rima é cruzada.
E apesar disso, crês? nunca pensei num lar
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Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito,
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo.
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
Camilo Pessanha
Estrutura Interna:
O
tema deste poema é a duvida do amor. Aqui o eu-lírico confessa a um
tu-mulher as especulações em que se perde para tentar definir o
sentimento que nutre por ela. O dialogo “Não
sei se isto é amor” o que desencadeia um processo de (auto-)definição
que se enreda num suceder de negativas. Nada se sabe sobre as reações da
interlocutora diante desse discurso, o que revela uma unilateralidade
típica da ausência de comunicação. E o poeta encurrala-se nestas
inquietações, nestas indefinições, nestas perguntas sem chance de
resposta, sem qualquer indício de que isso resulte em maior aproximação,
em comunicabilidade.
Extrutura Externa: Este poema é constituído por cinco quadras. A rima é cruzada.
Violoncelo
Chorai arcadas
Do violoncelo,
Pontes aladas
De pesadelo…
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos.
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro.
Que ruínas, (ouçam)
Se se debruçam,
Que sorvedouro!
Trêmulos astros,
Soidões lacustres…
Lemes e mastros…
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas.
Blocos de gelo!
Chorai arcadas
Do violoncelo,
Despedaçadas…
Análise Interna: A
música do violoncelo provoca um estado de alma ansioso, um sentimento
de misteriosa tristeza. Mas este sentimento não é dado diretamente; é
apenas sugerido por uma série de imagens e associações. Nada de tentar
encontrar objetividade no poema: o poeta não nos afirma que fica triste,
ansioso, inquieto, ao ouvir o violoncelo. Mas logo a apóstrofe «Chorai
arcadas» nos revela o carácter triste da música. O poema assenta, pois,
numa intuição associativa que liga o som grave do violoncelo ao
sentimento de dor e de mistério.
Relação entre Clepsidra e Violoncelo
Clepsidra é uma obra composta por
estilhaços de significado e Camilo Pessanha, um simbolista dividido em imagens,
sementes de uma geração modernista da qual foi Mestre.
Ao longo de outros poemas da Clepsidra, o
mesmo tipo de associações é feito para refletir a sensibilização do poeta em relação
adiferentes temáticas. O tempo é um outro tema recorrente na temática da
composição poética de Pessanha, muitas vezes representado metaforicamente pela
imagem da agua (motivo simbólico omnipresenteao longo de toda a obra), quer a
água do rio que corre sem se deter, simbolizando assim a passagem inevitável do
tempo, quer a imagem da água como profundidade simbolizando neste caso a distância abissal entre
o poeta e o Passado, o seu lugar temporal predilecto para o qual o sujeito
lírico frequentemente expressa o desejo de regressar.
O Passado aparece diversas vezes a par
com a Memória e a Morte, como é o caso no soneto “No Claustro de Celas”, onde a
associação de imagens comconotações positivas é atribuída à memória do Passado,
enquanto asimagens ligadas com a Morte surgem em referências ao presente, tempo
para o poeta inexistente: “Vou a medo na aresta do futuro, / Embebidoem
saudades do presente”.
O sonho surge também frequentemente em
Clepsidra por oposição à crueza da realidade, umas vezes ligado ao já referido
processo deassociações, outras ao próprio acto de dormir, repetidamente uma metáfora
eufemística da morte, derradeira forma de escape para o poeta, que mais do que
uma vez apela à sua hora de cessação.
É esta fragmentação que cria a identidade
líricado poeta entre o desejo e a realização, entre as imagens vazias de dois
espelhos fronteiros, entre Sonho e Realidade, entre Idealismo e Pessimismo…
CAMILO
PESSANHA
Camilo Pessanha foi o poeta mais
autenticamente Simbolista de Portugal, e um grande inovador da poética. Apresentando
uma visão extremamente pessimista de mundo, a obra poética de Camilo Pessanha
sugere uma visão de mundo sobretudo marcada pela desilusão e pela dor, que se
conhece e se auto-analisa.
A
intelectualização dos poemas de Camilo Pessanha é marcada pelo pessimismo em
relação ao mundo.
O Romantismo em Portugal
Rigorosamente, só depois de 1836, quando as feridas causadas pelas lutas entre miguelistas e liberais começam a cicatrizar, o Romantismo constitui-se em Portugal como escola, com os seus adeptos menores, as suas revistas, o seu publico. Até lá, assistimos a tentativas isoladas, prefiguram-se casos individuais de pioneiros.
O culto do diferente explica a literatura confessional em que o eu liricamente se exibe na singularidade dos sentimentos e da imaginação como explica ainda o nacionalismo estético, a valorização do que distingue um cultura regional de todas as outras, logo o apreço do tradicional e do popular.
9-
Amor de perdição
O narrador apresenta-se em terceira pessoa, apenas identificando-se ao final do livro como sobrinho de Simão, filho de Manuel Botelho, irmão de Simão. Possui aspectos autobiográficos.
Simão Botelho e Teresa de Albuquerque pertencem a famílias rivais: filho de dezoito anos de idade de um juiz o primeiro 16 anos de idade, filha única, de um amado, mas tiranizados nobilotto menina provincial. Eles estão perto e - por causa de disputas triviais - os pais odeiam-se. A história passa-se em Coimbra, onde estudou o jovem, e Viseu, onde as famílias residem.
O amor floresce quase involuntariamente e, uma vez que é detectado, ele é ferozmente contestado por ambos os pais. Para complicar o primo, que intervém , Baltasar, que visa à força como marido e é aceita e apoiada por sua família. A dedicação total dos dois amantes mútuos intransigentes. Por Teresa, que se recusa seu primo, é enviada para um convento, antes de Viseu e depois Porto.Simão tenta ver a rapariga, mas é impedido pela família e agora também pelo seu primo. Exasperado de uma proibição injustificada e com medo de mais violência que poderia forçá-la a se casar com Teresa Baltazar, tira proveito de uma provocação na rua e mata-lo. Ele recusa-se a fugir e se entregar às autoridades. Não adianta tentar defender-se e é condenado à forca.
O pai acabou se mudando, empurrado por sua esposa e amigos. Ele pediu e obteve que a sentença ser comutada para dez anos de exílio nas Índias portuguesas. Simão é colocado a bordo do navio que está levando para Goa. A partir do porto vê sua amada por trás das grades do convento. Ele percebe que ele está morrendo e ele recebe uma carta na qual Teresa declara que ele nunca conheceu a maioria, se não no céu. Ela morre consumida por infelicidade. Ele segue logo depois e é lançado ao mar. Também morre a sua jovem serva Mariana, que ama Simão desesperadamente, tendo-o tratado e seguido nos dias de prisão.
Tópicos "Amor de Perdição"
1- Contextualização ( referência bibliográfica e biográfica do autor)
2- Titulo e subtítulo
3- Espaço e tempo
4- Linguagem, estilo e estrutura da obra
5- A obra como mudança social
6- Narrador e narratório
7- Herói romântico
8- Personagens, caracterização e relação
9- Contextualização histórica social e biográfica
Biografia de Camilo Castelo Branco
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O conjunto da sua obra, vasta e extensa, para além de ser um espelho das suas vivências e experiências de viva são também um reflexo da sua mentalidade, da sua perceção moral e das preocupações que determinaram certo ponto da sua vida. Se nos inícios da sua carreira literária as suas obras mostram defender os ideais conservadores ou tradicionais, desaprovando os que lhe são contrários, isso atenuo-se progressivamente ao longo da sua vida.
Camilo segue o estilo romântico porque esse era o estilo literário da sua época e porque nunca esteve interessado em revolucionar ou transformar a literatura. Se há elementos realistas na literatura de Camilo de denúncia e crítica social, foram feitos sem a consciência de o serem, no entanto surgem com as devidas preocupações sociais e moralizante que Camilo, obviamente quis passar nas suas obras, apesar de serem mais atenuadas que qualquer obra do movimento realista que surgiu ainda na sua vida.
Contextualização histórica social e biográfica
Camilo Castelo Branco viveu numa época de mudanças, no contexto das Revoluções Liberais.
Revoluções Liberais:
- Revolução Americana;
- Revolução Francesa;
- Revolução Liberal Portuguesa;
Romantismo em Portugal:
O Romantismo chegou a Portugal num contexto de crise social e política.Portugal dividido entre o absolutismo e o liberalismo. Portugal vítima de guerra civil.
Liberalismo Português:
- Regresso da Família Real do Brasil;
- Constituição de 1822;
- Reações absolutistas e instauração do Miguelistas;
- Lutas entre liberais e absolutistas;
- Instauração definitiva do Liberalismo;
- Cabralismo - Maria da Fonte e Patuleia;
Três Gerações Românticas:
- Primeira geração - entre 1825 e 1840 - caracteriza se pela luta pelo liberalismo e pela libertação das amarras neoclássicas. Tem em Almeida Garrett e Alexandre Herculano os seus principais representantes.
- Segunda geração - entre 1840 e 1860 - prevalece a emoção e a paixão e sobressai a figura ultra-romântica de Camilo Castelo Branco.
- Terceira geração - década de 60 - representada por Júlio Dinis ( 1869-1871), desenvolve-se a transição para o Realismo da década de 70
6-O narrador e o narratário
Em Amor de perdição, há a predominância de uma narração em terceira pessoa com narrador omnisciente, de modo que essa presença é dissimulada e a narrativa se oferece ao leitor como se contasse a si mesma. Há também a narração em primeira pessoa, recurso utilizado principalmente quando o narrador se refere diretamente à narrativa, quando se coloca como narrador, assumindo esse papel de forma explícita.
A narrativa é extremamente criativa nas invenções de obstáculos, tornando o texto dinâmico e ágil.
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Tempo: O amor entre Simão e Teresa desenvolve-se num período de sete anos. O tempo cronológico é demonstrado e os acontecimentos desenvolvem-se de uma forma que privilegia a ação ao invés da discrição. O tempo psicológico é profundamente explorado através da angustia, do sofrimento e do clima denso e inquietações experimentado pelas personagens. A história desenrola-se no século XIX.
Espaço: A história passa-se em Portugal. Tudo começa em Viseu( revelando o provincianismo português), mas percorre também em Coimbra (Onde Simão estuda) e na cidade do Porto( marcada profundamente pelo desfecho trágico das personagens).
Ação/Intriga: A ação central de Simão pode ser esquematizada nesta frase que se (logo na introdução da obra):
Amou, perdeu-se e morreu amando.
a) Amou (Introdução)- Simão e Teresa apaixonam-se e ama-se.
b) perdeu-se (desenvolvimento)Simão e Teresa recusam-se a ceder á prepotencia dos pais e Simão acaba por matar Baltazar.
c) Morreu amando (conclusão) ao mesmo tempo que Teresa agonizava no convento, Simão, pressentindo a morte de Teresa, adoece e morre no navio.
Caracterização de personagens:
Teresa de Albuquerque - Protagonista, menina de 15 anos que se apaixona por Simão, também sai adquirindo densidade heróica ao longo da obra: firme no seu amor por Simão, ela mantém-se inflexível perante as violências cometidas pelo pai severa e autoritário, seja pata casá-la com o primo, seja para transformá-la em freira. Neste sentido, a obstinação que a caracteriza é a mesma presente em Simão, com a diferença de que nela o heroísmo consiste não em agir, mas em reagir. Isto por pertencer ao sexo feminino, símbolo da fragilidade e da passividade perante o carácter viril, másculo, quase selvagem do homem romântico. Teresa constitui uma heroína romântica típica, um exemplo da imagem da mulher-anjo que vigorou no Romantismo.
Mariana -
É uma Moça pobre e do campo que como a personagem mais romântica da história, porque o sentir a satisfaz, sem necessidade ao menos de esperança de concretizar-se a seu amar par Simão. Independente do amor entre Simão e Teresa, Mariana ama-o e faz tudo por ele Estas atitudes fazem de Mariana uma personificação do espírito de sacrifício.
É uma Moça pobre e do campo que como a personagem mais romântica da história, porque o sentir a satisfaz, sem necessidade ao menos de esperança de concretizar-se a seu amar par Simão. Independente do amor entre Simão e Teresa, Mariana ama-o e faz tudo por ele Estas atitudes fazem de Mariana uma personificação do espírito de sacrifício.
Domingo Botelho - O pai de Simão é considerado o oposto dos heróis, na medida em que representam a hipocrisia social, o apego egoísta e tirano à honra do sobrenome e desmoralizada pelo narrador.
Baltasar Coutinho - O primo de Teresa e nele se concentram toda perversidade, toda a prepotência dos fidalgos. Tal personagem constitui. sem nenhuma duvida, o vilão da historia.
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João da Cruz - O pai de Mariana, destaca-se como personagem mais sensato, mais equilibrado, o único personagem que possui traços realistas, de Amor de Perdição. Torna-se protetor do herói com palavras sempre oportunas, lúcidas, estratégicas, e com atos corajosos e violentos, quando necessário.
Linguagem e estilo:
Em nenhuma obra de Camilo se encontra uma linguagem tão simples e despreocupada como nesta. Esta simplicidade e espontaneidade de linguegem eé enriquicida pela emotividade nascida do facto de Camilo projetar o seu drama pessoal no drama de Simão, seu tio.
Há, no entanto, variedade de niveis de lingua: culta quando fala o narrador, elagante e académica nas falas de Simão, familiar em Teresa e Mariana, popular e por vezes calão em João da Cruz, o ferrador.
A obra como de mudança social
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Questão Coimbrã: Também conhecida como a Questão do Bom Senso e Bom Gosto, foi uma das mais importantes polémicas literárias portuguesas e a maior em todo o século XIX que. Foi desencadeada em Coimbra por um grupo de jovens intelectuais que vinham reagindo contra a degenerescência romântica e o atraso cultural do país.
Geração de 70
Assim se designa o grupo de jovens intelectuais portugueses que, primeiro em Coimbra e depois em Lisboa, manifestaram um descontentamento com o estado da cultura e das instituições nacionais. O grupo fez-se notar a partir de 1865, tendo Antero de Quental como figura de proa e de maior profundidade reflexiva, e integrando ainda literátos como Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Teófilo Braga, Eça de Queirós, Oliveira Martins, Jaime Batalha Reis e Guilherme de Azevedo. Juntos ou, como sucedeu mais tarde, trilhando caminhos de certa forma divergentes, estes homens marcaram a cultura portuguesa até ao virar do século (se não mesmo até à República), na literatura e na crítica literária, na historiografia, no ensaísmo e na política.
Os homens da Geração de 70 tiveram possibilidade e, sobretudo, apetência de contacto com a cultura mais avançada da Europa como não se via em Portugal desde o tempo da formação de um Garrett e de um Herculano.
Conferencias do Casino Lisbonense
São uma série de conferências, também conhecidas simplesmente por Conferências do Casino - levadas a público em 1871, em Lisboa, por iniciativa do chamado grupo do Cenáculo, de que faziam parte Antero de Quental, Eça de Queirós, Jaime Batalha Reis, Salomão Sáragga, Manuel Arriaga e Guerra Junqueiro.
Este é o ponto mais alto da Geração de 70. Visavam abrir um debate sobre o que de mais moderno, a nível de pensamento, se vinha fazendo lá fora. Aproximar Portugal da Europa era o objetivo máximo, anunciado, aliás, no respetivo programa.
Este é o ponto mais alto da Geração de 70. Visavam abrir um debate sobre o que de mais moderno, a nível de pensamento, se vinha fazendo lá fora. Aproximar Portugal da Europa era o objetivo máximo, anunciado, aliás, no respetivo programa.
Realismo (arte e literatura)
O Realismo é uma forma de expressão artística que procura reproduzir de forma mais ou menos evidente e naturalista o mundo e os objetos da realidade envolvente, surgindo de forma cíclica ao longo da história e tendo como grande impulsionadora a França.
Literatura
A Questão Coimbrã está na origem de um renovação literária à qual a França deu o seu impulso. Sente-se a crise religiosa no positivismo de Auguste Comte. Renan com o seu ateísmo, Michelet e o seu anticlericalismo, o socialismo de Proudhon vão determinar essa renovação que se opera na segunda metade do século XIX.
Artes Plásticas e Decorativa
No século XIX, o termo estava associado ao conceito de Naturalismo, corrente estética que reagiu contra o subjetivismo romântico e o idealismo classicista, sendo aplicado, por exemplo, para caracterizar a obra de alguns pintores e escultores naturalistas franceses ligados à Escola de Barbizon ou aos trabalhos, de carácter crítico e muitas vezes satírico.
Naturalismo
O naturalismo é uma ramificação do Realismo e uma das suas principais características é a retratação da sociedade de uma forma bem objetiva.
Os naturalistas abordam a existência humana de forma materialista. O homem é encarado como produto biológico passando a agir de acordo com seus instintos, chegando a ser comparado com os animais (zoomorfização).
Segundo o Naturalismo, o homem é desprovido do livre-arbítrio, ou seja, o homem é uma máquina guiada por vários fatores: leis físicas e químicas, hereditariedade e meio social, além de estar sempre à mercê de forças que nem sempre consegue controlar. Para os naturalistas, o homem é um brinquedo nas mãos do destino e deve ser estudado cientificamente.
Cartoon: Um cartoon, cartune ou cartum é um desenho humorístico acompanhado ou não de legenda, de caráter extremamente crítico, retratando, de uma forma bastante sintetizada, algo que envolve o dia a dia de uma sociedade.
![](https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6b/Mad_scientist_caricature.png/220px-Mad_scientist_caricature.png)
Caricatura: é um desenho de uma personagem da vida real, tal como políticos e artistas. Porém, a caricatura enfatiza e exagera as características da pessoa de uma forma humorística, assim como em algumas circunstâncias acentua gestos, vícios e hábitos particulares em cada indivíduo. Ser caricato é ser objeto de comicidade, ironia ou ter algo peculiar na face ou no corpo, levados ao exagero, à sátira jocosa ou como crítica de costumes.
![](https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6f/Editorial_cartoon_depicting_Charles_Darwin_as_an_ape_%281871%29.jpg/225px-Editorial_cartoon_depicting_Charles_Darwin_as_an_ape_%281871%29.jpg)
![](https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/8a/Daumier_conf%C3%A9rence_de_londres.jpg/260px-Daumier_conf%C3%A9rence_de_londres.jpg)
Rafael Bordalo Pinheiro
![Resultado de imagem para Rafael Bordalo Pinheiro](http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/ilustra/1905/034812_foto_01.jpg)
Oriundo de uma família de artistas, teve uma formação escolar que passou pelo Liceu das Merceiras, onde se matriculou em 1857, no mesmo ano em que nasceu o irmão, Columbano Bordalo Pinheiro, que se viria a revelar um notável pintor.
![Resultado de imagem para Rafael Bordalo Pinheiro](https://tendimag.files.wordpress.com/2012/09/fig-5-rafael-bordalo-pinheiro.jpg)
A Intriga secundária e a intriga principal
N'Os Maias distinguem-se duas intrigas - a intriga secundária, narrada retrospetivamente, corresponde à paixão trágica de Pedro da Maia e condiciona decisivamente o desenvolvimento e o desenlace da intriga principal, cujo protagonista é Carlos da Maia, filho de Pedro.
Personagens da Intriga Secundária:
Maria Monforte:
Afonso era baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes.O cabelo era branco, muito curto e a barba branca e comprida.
Vilaça
Vilaça é o Administador da Família Maia. O seu pai, anteriormente havia tomado conta dos negócios da família para além de ser querido a todos em Santa Olávia, especialmente a Afonso da Maia. Quando morre, Vilaça Júnior assume o cargo de seu pai.
A intriga secundária está estruturada em cinco momentos:
1.º) Pedro vê Maria Monforte.
2.º) Pedro namora Maria Monforte.
3.º) Pedro casa com Maria Monforte.
4.º) Maria Monforte foge com Tancredo, levando a filha.
5.º) Pedro suicida-se.
Por um lado, Maria surge envolta num ambiente de mistério (a sua origem) e marcada pelos traços da beleza física e da transgressão e por outro lado, trata-se de uma paixão súbita / à primeira vista (uma paixão fatal), seguida de um namoro "à antiga", com a escrita diária de duas cartas febris de seis folhas de papel (de Pedro para Maria).
Não poderia faltar a oposição paterna a este romance,
resultante do conhecimento dos pormenores sobre a família de
Maria por parte de Afonso ("-Não me tinhas falado nisso...Creio q é filha de um assassino, de um negreio").
À paixão segue-se o casamento. A lua-de-mel, inicialmente, é apresentada como uma «felicidade de novela». Passa por Itália e Paris, havendo a destacar a vida faustosa e luxuosa de Maria, os ciúmes causados em Pedro e a primeira gravidez.
E tudo culmina com o desenlace trágico da intriga secundária.
O adultério e a fuga de Maria (com a filha) encontram as suas causas, por um lado, na ociosidade de Maria, uma personagem dominada pelo luxo, pela ostentação, sem uma ocupação que lhe preencha utilmente a vida, daí que se entregue aos prazeres e caia no adultério, e a fuga de Maria com Tancredo, por quem se apaixona, tem o caráter de um episódio de novela romântica.
O suicídio de Pedro, por sua vez, constitui o desenlace típico do romance naturalista.
Personagens da Intriga Secundária:
Maria Monforte:
Tinha os cabelos loiros e é extremamente bela e sensual.
Caracterização Psicológica
Tem um carácter pobre, excêntrico e excessivo. Costumavam chamar-lhe negreira porque o seu pai levara, noutros tempos, cargas de negros para outros países.
Leviana e imoral, é a culpada de todas as desgraças da família Maia.
Pedro da Maia
Era pequenino, face oval de "um trigueiro cálido", olhos belos – "assemelhavam-no a um belo árabe". Valentia física.
Caracterização Psicológica
Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e de grande instabilidade emocional.
O autor dá grande importância à vinculação desta personagem ao ramo familiar dos Runa e à sua semelhança psicológica com estes.
Pedro é vítima do meio baixo lisboeta e de uma educação retrograda(tradicional portuguesa). O seu único sentimento vivo e intenso fora a paixão pela mãe.
Apesar da robustez física é de uma enorme cobardia moral (como demonstra a reacção do suicídio face à fuga da mulher).
Afonso da Maia
Caracterização Física
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Caracterização Psicológica
Provavelmente o personagem mais simpático do romance e aquele que o autor mais valorizou. Não se lhe conhecem defeitos. Enquanto jovem adere aos ideais do Liberalismo, e é generoso para com os amigos e os necessitados. Ama a natureza e o que é pobre e fraco. Tem altos e firmes princípios morais. É o símbolo do velho Portugal que contrasta com o novo Portugal, o da Regeneração, cheio de defeitos.
Vilaça
![Resultado de imagem para Vilaça os maias](http://www.ardefilmes.org/osmaias/images/actores/10.png)
A intriga secundária está estruturada em cinco momentos:
![Resultado de imagem para os maias intriga secundaria](http://1.fotos.web.sapo.io/i/Be304ea6a/19550952_WRDS7.jpeg)
2.º) Pedro namora Maria Monforte.
3.º) Pedro casa com Maria Monforte.
4.º) Maria Monforte foge com Tancredo, levando a filha.
5.º) Pedro suicida-se.
Por um lado, Maria surge envolta num ambiente de mistério (a sua origem) e marcada pelos traços da beleza física e da transgressão e por outro lado, trata-se de uma paixão súbita / à primeira vista (uma paixão fatal), seguida de um namoro "à antiga", com a escrita diária de duas cartas febris de seis folhas de papel (de Pedro para Maria).
![Resultado de imagem para os maias afonso](https://queirosiana.files.wordpress.com/2012/11/walmor-chagas.jpg)
À paixão segue-se o casamento. A lua-de-mel, inicialmente, é apresentada como uma «felicidade de novela». Passa por Itália e Paris, havendo a destacar a vida faustosa e luxuosa de Maria, os ciúmes causados em Pedro e a primeira gravidez.
E tudo culmina com o desenlace trágico da intriga secundária.
O adultério e a fuga de Maria (com a filha) encontram as suas causas, por um lado, na ociosidade de Maria, uma personagem dominada pelo luxo, pela ostentação, sem uma ocupação que lhe preencha utilmente a vida, daí que se entregue aos prazeres e caia no adultério, e a fuga de Maria com Tancredo, por quem se apaixona, tem o caráter de um episódio de novela romântica.
O suicídio de Pedro, por sua vez, constitui o desenlace típico do romance naturalista.
Linguagem e Estilo Queirosiano nos Maias:
A prosa de Eça de Queirós reflete a sua forma de pensar e exprime facilmente o seu modo de ver o mundo e a vida. Este soube explorar, a partir de um vocabulário simples, a força evocativa das palavras com o uso de sentidos conotativos e relações combinatórias. Através de processos como: o ritmo da narração, a descrição, o diálogo, monólogos interiores e comentários, Eça conseguiu imprimir nas suas palavras um verdadeiro encanto.
As Personagens
Nas suas obras, Eça pretende criticar a sociedade portuguesa da época. Para o fazer, utilizou personagens tipo – personagens que não são individuais mas que dizem respeito uma personagem geral que retrata, por exemplo, uma classe social ou uma certa instituição. Com este tipo de personagens, o escritor conseguiu retratar nas suas obras a sociedade em que vivia.Eça julgava a sociedade portuguesa uma sociedade em decadência, por isso era posta no banco dos réus por parte do autor.
As críticas que Eça de Queiroz faz da sociedade são bastante subjectivas, pois é sempre a visão pessoal do escritor presente nas obras.
O Adjetivo e o Advérbio
No estilo Queirosiano, o adjetivo é usado de forma extremamente subjetiva e não pretende estabelecer qualquer relação directa com o substantivo que qualifica, mas sim dar a entender a relação entre esse nome e os outros, despertando a imaginação. Deste modo, o adjetivo surge com um carácter impressionista da prosa de Eça de Queiroz, já que é utilizado para mostrar ao leitor os sentimentos produzidos no escritor.
Os Verbos
Os verbos declarativos (disse, afirmou, observou, explicou, respondeu, prosseguiu são comuns para introduzir falas de personagens e por isso tornam o discurso monótono, pelo que, o escritor opta por suprimi-los. Assim, a não utilização deste tipo de verbos, confere ao texto uma quebra na monotonia e dá-lhe ritmo e vivacidade.
A Frase e a Linguagem
A pontuação, na prosa queirosiana, não pretende servir a lógica gramatical. Eça põe a pontuação ao serviço do ritmo da frase para, por exemplo, marcar pausas respiratórias, para revelar hesitações ou destacar elevações de vozes.
O processo consiste em utilizar no discurso indireto a linguagem que a personagem usaria no discurso directo, ou seja no diálogo. Deste modo, o texto ganha vivacidade e evita a repetitiva utilização de disse que, perguntou se, afirmou que, criando a impressão de se ouvir falar a personagem.
Como observador da sua sociedade, Eça teve de recriar nas suas obras as diferentes linguagens das diferentes classes sociais da sua época. Por isso, as suas obras tornam-se riquíssimos espólios e testemunhos da vida dos finais do século XIX.
Recursos Estilísticos
A prosa Queirosiana é enriquecida com vários recursos estilísticos. Aquelas que se podem destacar por melhor representam o estilo de Eça são:
- a hipálage – figura de estilo que consiste em atribuir uma qualidade de um nome a outro que lhe está relacionado, revelando assim a impressão do escritor face ao que descreve.
- a sinestesia – figura de estilo relacionada com o apelo aos sentidos que nos transporta para um conjunto de sensações por nos descrever determinado ambiente (cenário envolvente) com realismo, tornando-nos de certa forma testemunhas desse cenário.
- a ironia – recurso estilístico que, por expressar o contrário da realidade, serve para satirizar e expor contrastes e paradoxos.
![A intriga principal• Introdução: Retrospectiva da história da família até à instalação de Carlos e de Afonso no Ramalhet...](https://image.slidesharecdn.com/osmaias-aintriga-130103052859-phpapp02/95/os-maias-a-intriga-4-638.jpg?cb=1357190978)
![Momentos mais marcantes• Carlos vê Maria Eduarda (cap. VI, p.156)• Carlos visita Rosa (cap. IX, p. 260)• Carlos vai ...](https://image.slidesharecdn.com/osmaias-aintriga-130103052859-phpapp02/95/os-maias-a-intriga-6-638.jpg?cb=1357190978)
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Os Maias- Tempo:
Este romance não apresenta um seguimento temporal linear, mas, pelo contrário, uma estrutura complexa na qual se integram vários "tipos" de tempos:
Entende-se por tempo histórico aquele que se desdobra em dias, meses e anos vividos pelas personagens, reflectindo até acontecimentos cronológicos históricos do país.
N'Os Maias, o tempo histórico é dominado pelo encadeamento de três gerações de uma família, cujo último membro (Carlos), se destaca relativamente aos outros.
A fronteira cronológica situa-se entre 1820 e 1887, aproximadamente.
Assim, o tempo concreto da intriga compreende cerca de 70 anos.
Tempo do Discurso
Por tempo do discurso entende-se aquele que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador, ordenado ou alterado logicamente, alargado ou resumido.
Na obra, o discurso inicia-se no Outono de 1875, data em que Carlos, concluída a sua viagem de um ano pela Europa, após a formatura, veio, com o avô, instalar-se definitivamente em Lisboa.
Pelo processo de analepse, o narrador vai, até parte do capítulo IV, referir-se aos antepassados do protagonista (juventude e exílio de Afonso da Maia (avô), educação, casamento e suicídio de Pedro (pai), e à educação de Carlos da Maia e sua formatura em Coimbra) para recuperar o presente da história que havia referido nas primeiras linhas do livro. Esta primeira parte pode considerar-se uma novela introdutória que dura quase 60 anos. Esta analepse ocupa apenas 90 páginas, apresentadas por meio de resumos e elipses.
Assim, como vemos, o tempo histórico é muito mais longo do que o tempo do discurso.
Do Outono de 1875 a Janeiro de 1877 - data em que Carlos abandona o Ramalhete - existe uma tentativa para que o tempo histórico (pouco mais de um ano da vida de Carlos) seja idêntico ao tempo do discurso - cerca de 600 páginas - para tal Eça serve-se muitas vezes da cena dialogada.
O último capítulo é uma elipse (salto no tempo) onde, passados 10 anos, Ega se encontra com Carlos em Lisboa.
Tempo Psicológico
O tempo psicológico é o tempo que a personagem assume interiormente; é o tempo filtrado pelas suas vivências subjectivas, muitas vezes carregado de densidade dramática. É o tempo que se alarga ou se encurta conforme o estado de espírito em que se encontra.
No romance, embora não muito frequente, é possível evidenciar alguns momentos de tempo psicológico nalgumas personagens:
Pedro da Maia, por exemplo, na noite em que se deu o desaparecimento de Maria Monforte e o comunica a seu pai; Carlos, quando recorda o primeiro beijo que lhe deu a Condessa de Gouvarinho, ou, na companhia de João da Ega, contempla, já no final de livro, após a sua chegada de Paris, o velho Ramalhete abandonado e ambos recordam o passado com nostalgia. Uma visão pessimista do Mundo e das coisas. É o caso de "agora o seu dia estava findo: mas, passadas as longas horas, terminada a longa noite, ele penetrava outra vez naquela sala de repes vermelhos...".
O tempo psicológico introduz a subjectividade, o que põe em causa as leis do naturalismo.
Os Maias - Espaços
Nos Maias podemos encontrar 3 tipos de espaço:
Espaço Físico:
Exteriores
A maior parte da narrativa passasse em Portugal, mais concretamente em Lisboa e arredores.
Em Santa Olávia passasse a infância de Carlos e é também para lá que este foge quando descobre a sua relação incestuosa com a irmã.
Em Coimbra passam-se os estudos de Carlos e as suas primeiras aventuras amorosas.
É em Lisboa que se dão os acontecimentos que levam Afonso da Maia ao exílio; é em Lisboa que sucedem os acontecimentos capitais da vida de Pedro da Maia; e é também lá que decorre a vida de Carlos que justifica o romance - a sua relação incestuosa com a irmã.
O estrangeiro surge-nos como um recurso para resolver problemas. Afonso exila-se em Inglaterra para fugir à intolerância Miguelista; Pedro e Maria vivem em Itália e em Paris devido à recusa deste casamento pelo pai de Pedro. Maria Eduarda segue para Paris quando descobre a sua relação incestuosa com Carlos. O próprio resolve a sua vida falhada com a fixação definitiva em Paris.
Deve referir-se como importante espaço exterior Sintra, palco de vários encontros, quer relativos à crónica de costumes, quer à relação amorosa dos protagonistas.
Vários são os espaços interiores referidos n' Os Maias, destacamos os mais importantes.
No Ramalhete podemos encontrar: o salão de convívio e de lazer, o escritório de Afonso, que tem o aspecto de uma "severa câmara de prelado", o quarto de Carlos, "como um ar de quarto de bailarina", e os jardins.
A acção desenrola-se também na vila Balzac, que reflecte a sensualidade de João da Ega. É referido também na obra, o luxuoso consultório de Carlos que revela o seu diletantismo e a predisposição para a sensualidade.
A Toca é também um espaço interior carregado de simbolismo, que revela amores ilícitos. São ainda referidos outros espaços interiores de menor importância como o apartamento de Maria Eduarda, o Teatro da Trindade, a casa dos Condes de Gouvarinho, o Grémio, o Hotel Central os hotéis de Sintra, a redacção d' A Tarde e d' A Corneta do Diabo, etc.
Espaço Social
O espaço social comporta os ambientes (jantares, chás, soirés, bailes, espectáculos), onde actuam as personagens que o narrador julgou melhor representarem a sociedade por ele criticada - as classes dirigentes, a alta aristocracia e a burguesia.
Destacamos o jantar do Hotel Central, os jantares em casa dos Gouvarinho, Santa Olávia, a Toca, as corridas do Hipódromo, as reuniões na redacção de A Tarde, o Sarau Literário no Teatro da Trindade - ambientes fechados de preferência, por razões de elitismo.
O espaço social cumpre um papel puramente crítico.
Espaço Psicológico
O espaço psicológico é constituído pela consciência das personagens e manifesta-se em momentos de maior densidade dramática. É sobretudo Carlos, que desvenda os meandros da sua consciência, ocupando Ega, também, um lugar de relevo. Destacamos, como espaço psicológico, o sonho de Carlos no qual evoca a figura de Maria Eduarda; nova evocação dela em Sintra; reflexões de Carlos sobre o parentesco que o liga a Maria Eduarda; visão do Ramalhete e do avô, após o incesto; contemplação de Afonso morto, no jardim.
Quanto a Ega, reflexões e inquietações após a descoberta da identidade de Maria Eduarda.
O espaço psicológico permite definir estas personagens como personagens modeladas.
Crítica Social
Crítica Social
A crónica de costumes da vida lisboeta da Segunda metade do séc. XIX desenvolve-se num certo tempo, projecta-se num determinado espaço e é ilustrada por meio de inúmeras personagens intervenientes em diferentes episódios.
Lisboa é o espaço privilegiado do romance, onde decorre praticamente toda a vida de Carlos ao longo da acção. O carácter central de Lisboa deve-se ao facto de esta cidade, concentrar, dirigir e simbolizar toda a vida do país. Lisboa é mais do que um espaço físico, é um espaço social. É neste ambiente monótono, amolecido e de clima rico, que Eça vai fazer a crítica social, em que domina a ironia, corporizada em certos tipos sociais, representantes de ideias, mentalidades, costumes, políticas, concepções do mundo, etc.
Raúl Brandão
Biografia:
Prosador, ficcionista, dramaturgo e pintor, oriundo da Foz
do Douro, no Porto,nasceu a 12 de março de 1867, e viveu parte da sua vida em
Lisboa, onde veio a falecer a 5 de dezembro de 1930.
Descendente de homens do mar, a sua infância foi marcada
pela paisagem física e humana da zona piscatória da Foz do Douro. Ainda no
Porto, conviveu com os jovens escritores António de Oliveira, António Nobre e
Justino de Montalvão com quem, em 1892, subscreveu o manifesto Nefelibatas .
Iniciou a sua carreira literária em 1890 com Impressões e Paisagens
Obra:
Frequentou o curso
superior de Letras, mas ingressou na carreira militar.Colocado em Guimarães,
retirou-se para a Casa do Alto, quinta próxima de Guimarães, local de produção
da maior parte da sua obra literária, alternando o isolamento nortenho com
estadias em Lisboa, onde desenvolveu paralelamente uma atividade jornalística,
tendo colaborado em publicações como o Imparcial, Correio da Noite, Correio da
Manhã e O Dia . Nestes últimos, é constante o seu debruçar sobre o terrível
drama da condição humana,perpassado pelo sofrimento, a angústia, o mistério e a
morte. São também constantes as referências aos ofendidos e humilhados, face
visível da expressão humana que é um dos motivos mais regulares na sua obra.
Ao longo de uma obra multifacetada, Raul Brandão viria a ser
um dos escritores que, a par de Fernando Pessoa, mais influíram na evolução
da literatura portuguesa do século XX, sendo eleito figura tutelar não apenas
de gerações suas contemporâneas, como o grupo reunido em torno de Seara Nova , ou
o chamado grupo da Biblioteca Nacional (Jaime Cortesão, Raul Proença, Aquilino
Ribeiro, Câmara Reis), como de gerações posteriores para as quais a redescoberta
da obra de Raul Brandão serviu de esteiro.